Soará certamente a chavão, a afirmação de que África é uma lição. Não faz mal, até porque não é só uma lição, são muitas. Ainda recentemente aqui me referia à vergonha de chorar as nossas mágoas, quando somos confrontados com a dimensão do que outros aguentam e ultrapassam. Também já tive oportunidade de referir nestas páginas, algumas mensagens de determinação, como a de FORD quando diz que “os obstáculos são aquelas coisas horríveis que nós vemos quando desviamos o olhar dos nossos objetivos”.
Com o mesmo propósito, recorri a uma metáfora náutica, para sublinhar que, perante as mesmas dificuldades, uns sucumbem enquanto outros vencem. Recentemente, numa deslocação à República dos Camarões, mais precisamente em Douala, tive a oportunidade de testemunhar condições de trabalho absolutamente impensáveis para os nossos padrões europeus. Armazenistas que trabalham sem meios mecânicos de descarga – as paletes são abertas nos contentores e as resmas descarregadas à mão. O acondicionamento das mesmas em armazém é igualmente feito à mão, como à mão será feita toda a movimentação até entrega ao gráfico.
O trânsito é verdadeiramente caótico, o que faz de uma pequena entrega, trabalho para meio-dia de vários homens. Na Universidade, praticamente não há livros. Todo o material de estudo resulta de fotocópias. Os “Centros de Cópias” são umas barracas com as máquinas a céu aberto, em ruas não pavimentadas, cheias de pó, em condições que custam a acreditar, sem ver. As condições de concorrência não são fáceis. As histórias de atropelos e arbitrariedades repetem-se. A quantidade de produtos que atravessa a longa fronteira com a Nigéria, escapando ao pagamento de direitos e outros encargos fiscais é grande embora difícil de quantificar.
Pois é neste quadro de horror, que faria fugir a sete pés a maioria de nós, que eu fui encontrar uma equipa extraordinária, capaz de navegar por mais difíceis que sejam as águas. Elaboram um plano de Marketing a 3 anos, implementam-no com ambição e apresentam com orgulho o trabalho já realizado. Fui encontrar os papéis que distribuem, em todos os recantos (onde não se chega de carro). Fui encontrar em todas as máquinas de fotocópias, mesmo as mais sujas, no meio da rua, ao pó e ao sol (mas a trabalhar), um autocolante publicitário desta empresa e do papel que para ali vendeu.
Confesso-me impressionado (e não quis deixar de partilhar), por aquilo que uma vontade férrea consegue fazer, mesmo perante as condições mais agrestes.