A completar dez anos de operação, o Chiado Grupo Editorial afirma-se de forma destacada como a maior empresa do mundo na publicação em Língua Portuguesa e uma das que mais cresce em Língua Castelhana. Em 2017, publicou mais de 700 títulos em Portugal, 500 títulos no Brasil, 300 títulos em Espanha e na América Latina e 100 títulos entre as suas chancelas para as línguas Francesa, Italiana e Inglesa.
No total: 1600 novos títulos, em mais de vinte países, num catálogo onde podem ser encontrados os mais variados géneros literários e a amostra mais diversificada possível de autores, desde os mais consagrados a novos talentos emergentes, do autor com maior reconhecimento público ao que chega do anonimato para a sua primeira publicação. Uma das chaves para este meteórico crescimento? O investimento numa unidade gráfica própria, a Atlantic Print, hoje a maior gráfica de impressão digital de livros em Portugal, responsável pela produção de todos os catálogos nacionais e internacionais da Chiado.
Gonçalo Martins, fundador e CEO da Break Media, empresa que detém o Chiado Grupo Editorial e a Atlantic Print conta ao IG como tudo começou. “Houve um aspecto fundamental que me motivou a avançar na altura com o Chiado Grupo Editorial / Chiado Books. Tinha perfeita noção de que existia um imenso número de autores, com imenso talento, que não conseguiam publicar as suas obras com as editoras mais tradicionais e não me revia minimamente nos motivos pelos quais isso acontecia. O acesso à publicação estava reservado a um número restrito de autores, aos quais as editoras tradicionais reconheciam maior potencial comercial, em regra apontando a vendas superiores a três ou quatro mil exemplares, o que me parecia extremamente conservador e castrante de qualquer oportunidade para quem estivesse a dar os seus primeiros passos enquanto escritor.”
Nessa multidão de autores não publicados, encontrava regularmente obras com um imenso valor e interesse, independentes do seu potencial comercial. Gonçalo conta que ele próprio tinha amigos autores de obras que haviam vendido trezentos ou quinhentos exemplares, às quais lhes reconhecia a maior qualidade. O facto de um livro vender quarenta mil exemplares não significava – nem significa hoje – que é melhor do que o livro que vende quatrocentas cópias.
Gonçalo Martins é CEO da Chiado Grupo Editorial, uma das mais dinâmicas e reconhecidas editoras do mercado nacional. Quando completa dez anos de existência, o grupo editorial consolida a sua presença em Portugal e celebra a entrada no mercado brasileiro onde regista um sucesso absoluto.
Estávamos em 2008, em plena ebulição de uma das maiores crises da nossa história recente, quando o Chiado Grupo Editorial publicou a sua primeira obra, na altura sob o nome de Chiado Editora. O mercado livreiro registava violentas quebras de vendas, sem que tal desse sinais de alterar o paradigma editorial vigente, assente na produção em grande escala de um número reduzido de produtos. Editoras e distribuidoras começavam a sentir problemas estruturais que não conseguiam já esconder, com stocks excedentes, devoluções e fundos de catálogo acumulados em grande volume.
No espaço de poucos anos, já não era necessário que uma obra vendesse oitenta mil exemplares para que se classificasse como best-seller; um best-seller vendia dez mil, cinco mil, três mil exemplares e não eram visíveis sinais de adaptação, por parte das editoras convencionais, ao novo paradigma e aos novos tempos.
O poder de compra era violentamente afectado pela crise económica, mas esse não era o único motivo que Gonçalo Martins apontava para as quebras de vendas no mercado do livro. “Esse era apenas um dos factores da equação. Outro, igualmente importante para explicar as enormes quebras, era o facto dos próprios hábitos de consumo estarem a mudar rápida e radicalmente. Num mercado livre e com a globalização a chegar à sua maturidade, as tendências deixam de ser criadas e controladas em exclusivo por uma ou duas empresas que avançam com um produto que facilmente tornam visível, desejado e de venda quase garantida. Na minha opinião, no futuro imediato apenas quem estivesse preparado para responder de forma ágil ao que os leitores pediam e à forma, ritmo e volume com que o pedissem, poderia ter sucesso. E isso, salvo alguns livros e autores excepcionais, não seria possível quando se avançava logo à partida com três, quatro ou cinco mil exemplares de uma obra, só porque não se era capaz de vislumbrar forma mais razoável de os imprimir que não fosse em inevitáveis lotes de milhares.”
No entanto, Gonçalo Martins deparou-se com um problema central na definição do seu modelo: por um lado, os valores médios para produzir tiragens pequenas em offset – a tecnologia dominante, por ser a mais procurada pelo mercado editorial – eram perfeitamente proibitivos; por outro, a tecnologia que poderia permitir fazê-lo a um custo razoável, sem que se comprometesse minimamente a qualidade do livro – a impressão digital – não se encontrava minimamente amadurecida no nosso país, fruto de alguma desconfiança e da inexistência de capacidade produtiva com esta tecnologia.
“Quando criei a Chiado, em 2008, o panorama gráfico português não estava minimamente preparado para o nosso modelo. Algumas gráficas tinham um ou dois pequenos equipamentos digitais, que encaravam fundamentalmente como ‘backup’ para alguns trabalhos em offset. Não existia escala, nem equipamentos de topo que me permitissem contratar os nossos trabalhos em Portugal”, continua Gonçalo Martins. “Recordo-me de algumas conversas com algumas gráficas que contactei na altura, em que procurava abordar a necessidade de se evoluir dentro do digital. Boa parte das reacções que colhia não eram as melhores, ou mais confiantes nessa minha visão (risos).”
Numa primeira fase, não restou a Gonçalo Martins alternativa senão avançar com a impressão dos seus primeiros livros com uma das maiores gráficas offset do país, embora sabendo que se trataria de uma solução a prazo. Percebeu então que, se em Portugal o digital era ainda encarado enquanto tecnologia menor e de futuro incerto, ao nosso lado, em Espanha, existia já um número considerável de gráficas apostadas nessa tecnologia, com linhas de produção inteiramente digitais, compostas por equipamentos de topo no segmento, que começavam a constituir-se como alternativa e uma séria ameaça à gráficas mais tradicionais.
“Comecei a produzir junto de uma gráfica digital espanhola. Conseguia finalmente ter um custo razoável de produção, sem comprometer minimamente a qualidade de impressão dos livros, o que me permitia ter margem para pagar maiores royalties aos Autores, assumir os custos de uma distribuição mais alargada ou contratar mais colaboradores, por exemplo. Além disso, tinha custos relativamente estáveis e aproximados por exemplar, quer imprimisse quinhentos, trezentos ou setecentos exemplares numa primeira Edição”, revela-nos o CEO.
“Quando criei a Chiado, em 2008 o panorama gráfico português não estava minimamente preparado para o nosso modelo.”
Gonçalo Martins, CEO Chiado Grupo Editorial
Gonçalo empenhou-se então em aprofundar o seu conhecimento da tecnologia digital. Visitou muitas gráficas e feiras internacionais em que conheceu e testou os equipamentos de primeira linha deste segmento. “A cada ano, era incrível como a tecnologia digital dava enormes saltos em frente. As linhas eram progressivamente melhores, mais rápidas, mais robustas e esta alternativa ao offset ganhava cada vez mais credibilidade.” O final da primeira década do século XXI foi de facto uma época de profunda evolução tecnológica na impressão digital. As marcas que apontavam até então esta tecnologia aos centros de cópias ou a soluções de “office”, apostavam então no desenvolvimento de equipamentos cada vez mais capazes de atacar o segmento de produção.
Gonçalo não teve dúvidas de que o futuro da Chiado passaria por aí e em 2011 criou a Atlantic Print, a unidade gráfica que imprime todos os livros do Chiado Grupo Editorial. Começou num espaço com 80 metros quadrados, e três anos depois ocupava mais de 2.000 m2 num complexo gráfico e logístico na Portela de Sacavém, em Lisboa. O forte crescimento no continente sul-americano levou à criação de uma subsidiária da Atlantic Print no Brasil para produção dos catálogos brasileiros e latino-americanos. “Todos os dias produzimos aqui milhares de livros com destino ao mercado português e aos restantes mercados da Europa em que estamos presentes.”
Pioneiro na aposta na impressão digital para o mercado de produção de livro a larga escala, o Chiado Grupo Editorial veio confirmar a importância da atenção às oportunidades que a inovação e as novas tecnologias podem oferecer. Resultado de um investimento financeiro de cerca de 1,5 milhão de euros, sete anos volvidos a Atlantic Print conta com 25 colaboradores directos e 10 equipamentos de impressão digital de ponta.