Editorial #218 // por Ana Paula Cecília (Diretora)
ESTRATÉGIA? NEM QUE SEJA ESCRITA NUM GUARDANAPO DE PAPEL!
Chegamos a um momento novo na indústria gráfica, um momento que está a obrigar todas as empresas e profissionais a permanecer atentos aos sinais para entender, não o futuro, mas para viver o presente. Já não se trata de projetar o futuro a dois anos ou antecipar cenários possíveis sobre aquilo que o mundo da impressão será nos próximos anos. Não, agora vive se numa espécie de navegação à vista, ajustando a direção a cada nova alteração. Adaptar é mesmo a palavra de ordem. Com a falta de papel no mercado, a escolha entre uma ou outra gramagem passou a ser irrelevante. Relevante agora é mesmo o facto de haver papel. É por isso que a adaptação tem sido uma lição aprendida à força, até por quem estava habituado a programar e geria a longo prazo. Os profissionais gráficos andam com os “cabelos em pé”, angustiados pela falta de papel e outros materiais. Os clientes sentem o impacto, não só da falta destes, como dos consequentes aumentos e isto leva a que ponderem reduzir a percentagem de impressão nos seus trabalhos, nas campanhas e ações anteriormente definidas. No meio desta redução de volumes de impressão ou menos substituição por outros meios, reside o perigo de que não voltem. Se a coisa corre bem sem impressão, a falta desta não será sentida. Há quem no mercado ache que estes aumentos de preços de matéria prima serão bons para quem fornece e quem imprime porque poderão ambos ganhar mais… pessoalmente não estou certa do quão interessante será faturar mais em cada trabalho se o volume produzido se avizinha menor.
Ainda assim, há áreas que não pestanejam com a subida de preços da matéria prima devido ao crescimento que estão a registar, como são as áreas da embalagem, etiquetas e rótulos ou até o mundo dos livros. É talvez por isso que o mercado está a funcionar como um “cata vento” que vai virando ao sabor dos números e resultados de áreas impulsionadas por uma procura incessante ancorada sobretudo no e-commerce e, por uma pandemia que acelerou hábitos, métodos e processos. Fechados em casa durante muitos meses, cada pessoa encontrou formas de ocupar o tempo e enquanto uns fizeram pão e aprenderam a cozinharam, outros desataram a ler e contribuíram para o crescimento dos livros impressos em papel. Houve ainda quem passasse a escrever e sobretudo o sexo feminino, já que 78 por cento de todos títulos escritos em 2021, surgiram pela mão de mulheres.
Ao mesmo tempo que são muitos os sinais negativos e ameaçadores de toda a cadeia de impressão, são também enormes as oportunidades que esta transição oferece. Nem todos conseguem enfrentar os momentos conturbados da mesma forma, nem todos têm a visão certa ou a determinação que as crises exigem, mas é inegável que não é cruzando os braços que as empresas chegam mais longe.
Há muitas receitas para o sucesso e nenhuma é mais certa do que outra, mas a verdade é que cada um dos profissionais desta área tem de encontrar a sua e adaptá-la ao seu seu know-how, à sua equipa, aos seus clientes, ao mercado que já tem e ao que deseja conquistar. Como disse recentemente Rui Fonseca Ceo da Altronix, num evento que aborda o erro no marketing, “todas as empresas têm de ter uma estratégia que tem de estar escrita, nem que seja num guardanapo de papel, mas tem de estar escrita!”