Rui Costa é diretor geral da Orgal, empresa do Porto que comemorou em 2020 50 anos de atividade. Especialista na impressão de livros, catálogos e brochuras, e por ser uma empresa que já passou por vários momentos da história económica do país, quisemos saber de que forma a crise pandémica impactou a sua atividade e alterou estratégias e perspetivas.
De que forma esta nova e diferente crise pandémica veio alterar os planos da Orgal?
A situação pandémica resultante do Covid19 trouxe à empresa algumas alterações. A Orgal tinha previsto comemorar durante 2020 os seus 50 anos de atividade, mas aquilo que seria um momento de festa acabou por ficar adiado. Tal como esta celebração, ficaram igualmente adiados ou cancelados muitos outros eventos espalhados pelo país, e essa é uma questão que tem influência direta no trabalho das empresas de impressão e comunicação.
Julgava que 2020 seria um ano de crescimento, mas, as expectativas não se concretizaram, não só para nós, como para a grande maioria das empresas.
O impacto da pandemia refletiu-se muito nas áreas da cultura e turismo…
Sim, a suspensão de muitas atividades da área da cultura e sobretudo do turismo, teve muito impacto na indústria gráfica. Na Orgal, iríamos produzir, por exemplo, muitos catálogos para empresas que participariam em feiras nacionais e internacionais mas, esses eventos acabaram por ficar suspensos e, por consequência, esses são trabalhos que já não serão feitos. Depois é a situação da restauração, os hotéis, os congressos, os concertos e tudo o que ficou por realizar, mais os produtos impressos associados a todas estas atividades. A quebra na impressão é inevitável.
A Orgal esteve em layoff durante quanto tempo?
Estivemos em layoff até ao verão, mas apesar de toda esta situação ser complicada, a empresa retomou o trabalho com um bom ritmo, sendo que Outubro, acabou por ser um mês difícil, o que já é habitual, mas este ano, por causa da pandemia foi ainda pior. Sinceramente não sei se foi só por causa da pandemia ou se é mesmo uma questão referente às dinâmicas do mercado.
O que tenho assistido é uma sequência de preços de impressão praticados abaixo do custo e isso é preocupante. O cliente vem com o preço do ano passado e tentamos sempre acompanhar, mas há situações incompreensíveis.
É frequente encontrar situações em que os clientes têm acesso a orçamentos muito diferentes no que respeita à impressão mas sobre essa questão já muito se falou. Nunca se fez nada e não é possível chegar mais longe, porque são muitas empresas e, mesmo a Associação das Empresas Gráficas e Transformadoras de papel já tentou, mas acabou por não resultar.
Como é que avalia este percurso de 50 anos de actividade da Orgal?
A nossa empresa está nestas instalações há 47 anos e a verdade é que começou com uma área muito menor e foi crescendo. Actualmente contamos com 3.000 metros quadrados que acomodam toda a equipa e tecnologia. O grande investimento realizado pela Orgal é ainda a Heidelberg XL 106 a cinco cores + verniz, a primeira com LEUV, e que veio fazer a diferença no processo de produção.
O investimento na XL 106 não foi algo que surgiu por impulso, foi pensado porque sabíamos que precisávamos de nos diferenciar da concorrência e quando pesquisámos, percebemos que seria por ali que teríamos de ir.
Para trocar o equipamento que tínhamos, só faria sentido se fossemos para uma máquina mais rápida, com um excelente registo, acerto facilitado e que respondesse tanto a curtas como médias e grandes tiragens.
É evidente que o UV facilita muito todo o processo, sendo que o cliente tem, por exemplo, acesso mais rápido ao trabalho.
Sobre o processo de produção de uma empresa gráfica, posso dizer que as margens que temos são muito pequenas para o risco que corremos e, por isso, é imprescindível que possamos contar com tecnologia que nos garanta qualidade e minimize possíveis perdas. Foi por isso que escolhemos a Heidelberg XL 106 e, estamos satisfeitos com o desempenho e performance.
A Orgal produz sobretudo trabalhos de impressão na área do livro. É uma área para continuar?
Na Orgal trabalhamos sobretudo livros, revistas, catálogos e pensamos continuar nesta área, já que podemos responder com este equipamento a tiragens curtas ou médias ou mesmo grandes tiragens.
Com o mercado nacional a ser pequeno para tantas gráficas, a Orgal é apenas uma das empresas que tem apostado na exportação e nesse capítulo, é a flexibilidade que nos tem permitido entrar em mercados de outros países, como por exemplo em Espanha.
A flexibilidade é a nossa vantagem. Lá fora as gráficas são muito grandes e não tem a nossa flexibilidade e capacidade de resposta para determinados tipos de trabalho.
Temos procurado exportar e estamos a trabalhar para países como Angola mas, como este mercado também baixou em termos de encomendas, temos tentado outros. Espanha continua a ser o mais natural mercado de exportação e a Orgal tem seguido essa premissa, embora França e Holanda sejam também países de destino dos trabalhos impressos na nossa gráfica.
A procura de novos mercados passa por uma presença direta ou hoje a tecnologia resolve parte do contacto?
Por causa da Pandemia, as reuniões presenciais tornam-se mais difíceis mas, com toda a tecnologia que temos hoje disponível, o contacto com os clientes, mesmo os que falam outras línguas e estão fora de Portugal, é muito acessível e imediato.
Com a exportação na ordem do dia, o que pensa da possibilidade de criação de um cluster de empresas que possa “tentar” de forma mais assertiva e concertada ganhar clientes em outros países, sobretudo na Europa?
Penso que seria possível que esse projeto se tornasse realidade se as empresas estiverem disponíveis para tal e, sobretudo se estivermos a falar de empresas aqui do Norte.
A Orgal tem, por exemplo, parcerias com outras gráficas, sobretudo aqui no Norte, o que nos possibilita uma resposta atempada e adequada a qualquer pedido. Trabalhamos bastante com a Norprint, um excelente parceiro e, para além disto, trabalhamos a dois turnos de impressão e, sempre que é preciso, trabalhamos a três turnos.
Acerca da colaboração entre as empresas, posso afirmar que, em Portugal não existe uma verdadeira cooperação, enquanto em toda a Europa, é muito normal ver gráficas que servem outras, sobretudo na área do acabamento. Aqui já se fizeram inúmeras tentativas mas, infelizmente, não resultaram.
Considera que 2021 será um ano em que teremos de volta uma boa performance da indústria gráfica e um retorno ao crescimento?
Para ser sincero, não sei se será 2021 um ano de crescimento mas acredito que assim que o turismo voltar a “mexer”, haverá um acréscimo de trabalho já que esta área tem muita influência junto do mercado de impressão.
Tal como disse, na Orgal, uma parte do nosso trabalho passa pela produção de catálogos para empresas que participam em feiras e, com a suspensão dos eventos, esses trabalhos não se fizeram nem farão tão cedo. Além disto ainda estamos a falar da área da restauração, hotéis, congressos, os concertos que estão totalmente parados e isso tem muito impacto em todo o trabalho que as empresas gráficas fazem.
Tendo em conta a situação actual, a Orgal conta efetuar alterações na sua atividade diária?
Temos mantido os colaboradores connosco e, o que verificamos, é que o continua a existir dificuldade em encontrar pessoas com formação nesta área de atividade.
Acredito que os primeiros meses de 2021 não serão fáceis mas com o tempo espero que a atividade normalize.
Temos uma força de vendas composta por três comerciais e contamos muito com o “passa palavra” de quem gosta de trabalhar com a Orgal. A verdade é que tratamos bem todos os nossos clientes e isso reflete-se depois na forma como falam de nós.
Gostamos muito do que fazemos e, por isso, costumo dizer que apesar do negócio de impressão não ser “grande coisa”, de não ter margens absurdas, pelo menos que tenhamos prazer no trabalho que desenvolvemos. Sou um apaixonado pelo mundo da impressão e isso é o melhor de tudo.
Por vezes, temos vantagens interessantes que resultam de trabalharmos com clientes de prestígio, como é o caso do Museu do Prado, em Madrid, que nos recebem sempre de forma simpática e proporcionam acesso a visitas especiais.
Estamos de facto muito focados na nossa área. A área de embalagem, por exemplo, é interessante mas já é uma área esgotada e não é de fácil acesso, embora algumas empresas que entretanto se lançaram em projectos dessa natureza estejam com boas performances.
Se pudesse descrever a Orgal quais as palavras que usaria?
Temos 46 colaboradores e considero que hoje, talvez devido a toda esta situação as pessoas estão mais unidas e isso espelha-se no dia a dia da empresa. Os prazos de entrega são um ponto em que nos focamos porque sabemos que são muito importantes para os nossos clientes.
Diria que o que caracteriza a Orgal é, sem dúvida, a qualidade de impressão, a flexibilidade, produtividade e proximidade com os clientes.