“A Pedra Filosofal é o trabalho, a poupança e o investimento”
Anónimo
Como explicar que, por exemplo, a Suíça, Suécia, Japão e EUA, apenas para citar só estes quatro países, sem colónias para explorar, alguns sem matérias-primas ou fontes de energia, desamparados na pobreza de territórios cujos climas e topografias eram adversas, tenham conseguido alcançar os lugares cimeiros da economia mundial?
Suíça – Geograficamente, a Suíça não foi tão privilegiada pela natureza quanto Portugal. País montanhoso, artesanal e agrícola, sem costa marítima, até ao século XVIII era apenas um ponto de passagem no centro da Europa. Embora dedicando à actividade agrícola uma devoção inimaginável, a área de cultivo – só menos de 50% é arável – e a topografia não ajudavam para suprir as necessidades alimentares da população.
Então, qual foi o milagre? O desenvolvimento de uma indústria de turismo com pés e cabeça e a criação de indústrias de altíssima qualidade: relojoeira, metalúrgica, têxtil, química, farmacêutica, etc. Hoje, a sua imagem reflecte um país bem organizado, próspero, com uma moeda forte garantida por reservas de ouro a mais de 100%, e um PIB per capita calculado à volta de 78,00 USD.
Nada de espantar. Os seus trunfos desvendam-se claramente: a inteligência e dinamismo dos seus governantes, a colaboração ordeira do seu povo, uma longa história de neutralidade a facilitar a confiança de muitas organizações internacionais, financeiras e outras, a instalarem-se no seu território, criando uma cadeia de negócios com enfoque nos mercados globais.
Suécia – No Séc. XIX, a vida na Suécia era de enormes sacrifícios. Longos Invernos, iluminados à luz de velas, alimentando-se de batatas e arenques fumados, a população era dizimada por doenças, sobretudo pela tuberculose. A neve não permitia cultivar o solo, as colheitas no curto período do Verão eram parcas e o povo, pobre, passava fome. Pois bem. A Suécia, hoje, é um dos países mais industrializados do mundo, especializada em produtos de tecnologia elevada, exportando mais de 50% de toda a sua produção.
Durante e após a primeira e segunda guerra mundial, em que se manteve neutral, o país beneficiou economicamente com a procura de produtos em que se havia especializado: pasta de papel, fósforos, aço e rolamentos. Isto permitiu a implementação de políticas que conduziram ao estado de previdência mais avançado do mundo. Apesar dos efeitos da crise económica, de que também sofreu impacto na sua fase inicial, conseguiu em 2010 recuperar até crescer 6,15 %, o máximo crescimento desde 1964, em que cresceu 6.82%. Em 2011 continua a sua recuperação económica com cerca de 4% de crescimento.
Japão – Confinado na sua insulariedade, até ao século XIX a viver sob um sistema precedente de um paternalismo anacrónico de um regime feudal, era perseguido pela sua pobreza original. As guerras com a China e a Rússia, em que somou vitórias, empobreceram ainda mais o país, que, entretanto, adoptara um nacionalismo militarista, que durou até à sua capitulação na segunda guerra mundial. É a partir de 1951, altura em que terminou a ocupação americana, e já em regime democrático, que começou a produzir-se a sua recuperação económica.
O patriotismo é parte do ADN de cada japonês. Com valores, maneiras de pensar, intenções e normas de comportamento procedentes de uma filosofia em que o trabalho é um postulado mais ou menos implícito, quando o trabalho o exigia, trabalhavam sem horário, sacrificavam Sábados, Domingos e os escassos dias de férias, porque a moralidade exigia ajudar o país primeiro que tudo.
Está diante dos olhos que a vitória económica do Japão nos últimos cinquenta anos não foi mais do que a desforra de um povo humilhado, constantemente subordinado, decidido a esquecer os malefícios do passado e a virar a página da história do seu destino colectivo.
E.U.A. – A pouco mais de 200 anos da sua independência, os americanos, de uma pequena população rural de cerca de 4 milhões, viria a tornar-se na primeira potência mundial, agora com mais de 300 milhões de habitantes. País de imigração, acolheu gente de todo o mundo, que foi conseguindo sobreviver sobre tremendas dificuldades. A eles e aos seus descendentes, se deve o progresso de uma nação que nunca parou de crescer e de se afirmar.A história da América é bem conhecida e todos nós sabemos como foi epopeico o esforço, em alguns casos desumano, dos povoadores para sulcar territórios inóspitos, fundar pequenos aglomerados e criar as primeiras sociedades.
Dito isto, Portugal, não obstante ter explorado colónias, ocupar um território em grande parte arável, com boas condições climatéricas, com orla marítima em toda a sua extensão, com reservas minerais, comparativamente aos países que citei, parece ter sido atacado de paralisia. Continua a arrastar-se penosamente na cauda da Europa e cada vez mais distanciado dela. Má sorte a do seu destino, pelo menos enquanto apenas basear o seu orgulho na sua história e não no seu futuro. Por muito que nos queiramos iludir, o peso da nossa glória passada não chega para atenuar as nossas fraquezas ou preservar o amanhã dos nossos filhos.
Aos olhos da Europa e do mundo, Portugal é hoje um país indigente; uma sociedade semi-desenvolvida, a trabalhar e produzir cada vez menos e a querer viver como vivem as mais ricas. Ignorado e até desprezado por alguns dos nossos parceiros, é avaliado como um país chulo, que se habitou a viver à custa alheia. A verdade, é que dói reconhecer que chegou ao nível mais baixo a que um pais pode chegar: sujeitar-se ao açaime das instituições internacionais e a viver subjugado sob as suas directrizes.
Chegou aqui não por obra do acaso, mas sim pela mão de quem o desacreditou e deixou sem pé na vida: os políticos, que desde a revolução dos cravos o (des)governaram, os partidos de oposição, os sindicatos, etc.. Uns, desbaratando sem conta nem medida, favorecendo clientelismo e amiguismo; outros, de reivindicação em reivindicação, de greve em greve, morbidamente apostados em jogos politiqueiros, sugando, sugando até secar a substância.
A viver agarrado ao mito irrealista das conquistas e privilégios, a políticas ilusórias, a centrais sindicais braços armados dos partidos, cuja objectivo e actividade é da luta sistemática, não para favorecer a prosperidade comunitária das empresas nem a dos trabalhadores, mas sim como um instrumento de combate político, do quanto pior melhor, jamais se libertará da sua atrofia crónica.
Na verdade, esta república e os seus actores parecem não perceberem as dificuldades que rodeiam o país. Andam há quarenta anos a amesquinhar o nosso passado e a destruir-lhe o futuro, submetendo os seus concidadãos a um existência vegetativa, agonizante; a um beco sem saída para vidas sem objectivos, sem rumo, condenadas pelos erros de políticas levianas, tolas e irresponsáveis. Dá vontade de chorar!
Ouvindo a visionária classe política, os comentadores, economistas, analistas, politólogos e dirigentes sindicais, cada um empunhando a bandeira do seu partido, pergunto-me até que ponto, com gente desta e no meio de tanta demagogia e pregação teórica, de quem parece estar na praça pública por direito próprio a querer tutelar as nossas vidas, ainda podemos ter esperança de nos livrarem do purgatório a que nos subjugaram.
Portugal, com tanta incompetência e demagogia, caminhará sempre inseguro do seu futuro. O aviltamento chegou a tal ponto, que só uma barrela a eito poderá reabilitá-lo da dignidade que perdeu. Dói dizer isto, mas não posso calar o que me vai na alma.