Um evento virtual que reuniu, pela primeira vez, associações de três países para analisar o período pós-pandemia na área de impressão decorreu ma passada terça-feira. O evento terá ainda mais dois debates nos dias 12 e 13 de novembro.
Um evento virtual que reuniu assim três associações da indústria gráfica de Portugal, Brasil e Espanha, que no passado dia 10, o seu primeiro momento.
Abigraf, Apigraf e
Neobis acertaram agulha para debater, de modo virtual, a indústria gráfica no
período pós-pandemia e o que mudou no mercado. A patrocinar esta iniciativa
estão dois grandes players no mercado da impressão, a Heidelberg e a
Canon.
José Manuel Lopes de Castro
APIGRAF
Portugal

José Manuel Lopes de
Castro, presidente da Apigraf, foi o primeiro a dar a sua visão sobre a forma
como a indústria gráfica tem sido posta à prova durante a pandemia, tendo
afirmado que, “a incerteza tomou conta dos nossos destinos (…) mas agora é
preciso saber o que vai acontecer no período pós-pandemia, que oportunidades de
negócio podem surgir e, ainda, o que vem aí em termos de inovação.”
O presidente da
Apigraf fez um resumo sobre a última crise que assolou o mundo, que destruiu
empresas e levou à injeção de capital na economia e que, na sua opinião, “ainda
não tinha acabado quando, inesperadamente surgiu esta crise tão diferente em
que morrem pessoas e que obrigou os governos a atuar para evitar tragédias
maiores.”
Sobre a atual
situação, o presidente da Apigraf acabou por fazer um RX que permitiu a
quem assistiu, no Brasil e em Espanha, ter uma noção mais exata do que
está a acontecer em Portugal. “Se não há turismo, se a atividade hoteleira não
tem clientes, se não há eventos, a indústria gráfica não imprime. É preciso atuar
porque as empresas precisam de oxigénio e esta indústria tem um grande
contributo para a economia. Estaremos na linha da frente, nos momentos de crise
estamos sempre presentes e nenhuma indústria deixou de ter resposta por parte
da indústria gráfica”, concluiu.
Numa abordagem ao que
mudou no mercado e à digitalização da sociedade, Lopes de Castro sublinhou que
a indústria gráfica sempre foi boa no uso e na introdução de novas tecnologias
mas que, numa espécie de contrassenso, o Governo e as suas várias instituições
têm optado por tomar más decisões acerca do uso do papel, o chamado paperless,
legislando sobre a desmaterialização dos livros escolares e a redução do
consumo de papel pela administração pública, tudo em nome de uma pseudo-sustentabilidade.
“Alguma tecnologia já
deu provas de tanta durabilidade quanto o papel?”, questionou o presidente a
Apigraf, para logo de seguida falar sobre as margens negativas que veem desde a
crise anterior. A pergunta que todos devemos fazer é, “Queremos continuar a
viver assim? Os preços continuam a cair e temos de pensar sobre se conseguiremos
voltar às margens positivas”, enfatizou.
Levi Cerigato
ABIGRAF
Brasil

A um presidente seguiu-se outro e, entrou no écran Levi Cerigato, presidente da Abigraf, associação brasileira da área gráfica que, antes de analisar o período pós-pandemia, escolheu relembrar o impacto pré-pandemia. “De repente fomos surpreendidos com uma verdadeira guerra, uma guerra biológica que surgiu através de um vírus e que nos impactou a todos. Primeiro ficámos num enorme estado de letargia, com muitas gráficas a terem ficado paralisadas e com posterior adesão ao teletrabalho, o que mudou a paisagem das cidades, vazias, sem pessoas, sem automóveis…”
Levi Cerigato fez alusão a um cenário apocalíptico, de fim do mundo, que levou pessoas comuns a usarem máscaras, antes usadas por bandidos. Sobre a atuação do Governo brasileiro, Cerigato revelou que foram tomadas medidas para ajudar as empresas, mas que, o endividamento destas cresceu, fruto de alguma lentidão na tomada de decisões e pelo agravamento do estado do país que regista até agora mais de 5 milhões de pessoas afetadas pelo vírus.
“Temos 27 Estados e a
Abigraf está em todos, e durante este período de pandemia emitimos mais
de cem comunicados ao mercado, todos de temas diversos, para informar a
indústria gráfica sobre os caminhos a seguir. Infelizmente, muitas gráficas
ficaram pelo caminho, mas isso porque já estavam fragilizadas e a pandemia foi
o empurrão final”, avançou o presidente da Abigraf.
Mas o “dedo na ferida” foi direto ao tema “custo e preço” na indústria gráfica tendo Cerigato afirmado que, “normalmente as gráficas não conhecem os seus custos e vivem ao sabor da concorrência, do preço que outros dão. É necessário que os empresários tenham entusiasmo pelo lucro”, referiu.
O presidente da
associação brasileira, que defende os interesses das indústrias gráficas, foi
mesmo mais longe e, num tom acutilante, referiu que se os empresários precisam
do som das máquinas a funcionar, mais vale ter uma gravação porque ter apenas
máquinas em funcionamento não significa resultados, já que é a margem de lucro
o mais importante.
Apesar desta dica, Levi Cerigato revela que os empresários brasileiros têm investido em instalações modernas, colaborares treinados, investimento tecnológico, procedimentos de uma indústria 4.0 e 5.0, mas que, na área comercial, no que se refere a margens as empresas estão no nível 1.0. “A pandemia fez-nos andar para a frente e reinventar-nos, passámos a alterar gestos e métodos, com entregas ao domicílio, produzindo, por exemplo, embalagens apropriadas para essas entregas ao domicílio, o que trouxe um incremento aos negócios”, concluiu.
Alvaro Garcia
NEOBIS
Espanha
“Este tipo de
encontros são muito importantes”. Foi desta forma que Alvaro Garcia, da Neobis,
associação de empresas gráficas de Espanha, iniciou a sua apresentação, para
acrescentar que “pontos de vista distintos dão uma ideia global. Estamos a dar
passos juntos entre as distintas associações. Na Neobis representamos mais de
350 empresas e, o que temos feito ao longo destes 43 anos no sector, é
informar, assessorar os associados e acompanhá-los nos seus projetos.”
Alvaro Garcia falou
ainda sobre a descida do consumo de papel, mas que não teve a mesma relação na
descida da faturação.
Uma curiosidade que é
um dado relevante sobre o momento atual em Espanha foi avançado por Alvaro
Garcia que, contou que no país vizinho há cada vez menos empresas, mas maiores.
A grande dimensão das empresas passou a ser uma realidade.
“Há uma mudança que
leva a uma mudança social e isso afeta a comunicação gráfica, a forma como
trabalhamos, comunicamos, colaboramos, a nível profissional ou pessoal. Este
evento é um bom exemplo que mostra que o nosso sector vive de eventos
presenciais e quando os fazemos online tudo muda.”
Nesta sequência de
ideias e revelações, Alvaro Garcia avançou que um inquérito realizado junto dos
associados da Neobis conclui que são raras as empresas que planeiam investir
mas que, por outro lado, há um claro aumento da necessidade de colaboração, de
escuta e associação.
“Neste estudo que
fizemos, verificamos que os empresários querem colaborar mais, mas quando se
passa à prática, já é demasiado tarde. Não o fazem por livre opção, mas
por necessidade e, quando isso acontece já é muito tarde.
A maioria das empresas
desta área são familiares e, por isso, desvincular-se, por questões culturais é
algo muito complexo para todos.”
A terminar, Alvaro Garcia falou sobre as grandes áreas do mundo gráfico, a área comercial, packaging, editorial, etiquetas, considerando que estas estão a crescer, a transformar-se e a dar cartas no mercado.
Paulino Ribeiro
Finieco
Portugal
A Finieco está no
mercado há 22 anos, foi a primeira empresa a produzir sacos de papel de
forma automatizada, numa altura em que o país importava 100 por cento deste
produto. Com um crescimento constante, a empresa revela que reinveste tudo o
que a esta liberta em matéria de recursos humanos e tecnologia.
A especialização da
Finieco passa pela produção de sacos de papel com asas tradicionais, asa plana,
saquetas e também os envelopes em papel, os chamados “Go and Return”. Com 218
trabalhadores, a empresa de Santo Tirso conseguiu mesmo, em plena pandemia,
criar mais 40 postos de trabalho, o que é um feito de registo.
Paulino Ribeiro refere
que, “entre as papeleiras e os clientes damos importância ao serviço, apostamos
na especialização, num produto conforme e, criamos parcerias de longo prazo com
clientes e fornecedores.”
Com uma consciência
plena do tipo de produtos em que a empresa se especializou, Paulino Ribeiro
revelou que “temos um produto que não tem valor percebido já que os nossos
clientes só se lembram que não têm sacos, já em última análise. Assim, são os
nossos “key accounts” que antecipam necessidade juntos dos clientes.
Quando o cliente se esquece de comprar sacos, antecipamo-nos e isso tem
conseguido atrair muitos clientes.”
Quanto à estratégia
financeira da Finieco, Paulino Ribeiro foi muito claro ao adiantar que, “desde
o início, formulámos o preço não de acordo com o que a concorrência pratica,
mas de acordo com os nossos custos de produção. Tentamos ter um endividamento baixo,
o que nos tem permitido passar estes tempos conturbados com alguma segurança.
Um outro dado relevante, é que a isto juntamos o facto de termos uma política
de pagamentos pontuais, o que incentiva os clientes a pagar a tempo e horas.
Acrescento ainda que, trabalhamos com seguros de crédito e isso, permite-nos ir
a jogo com parceiros que nos dão mais segurança na análise de risco de crédito”,
conclui.
Ainda sobre o impacto que o COVID-19 teve na operação da Finieco, Paulino Ribeiro fez questão de relembrar que a crise é global porque estamos numa era globalizada e que, por esse motivo, a internacionalização tem sido uma aposta da empresa.
Com alguma sorte a
Finieco trabalha com empresas de cariz global como a Uber Eats, e com outras do
segmento de vendas online onde o produto “Go and Return” tem um papel
fundamental permitindo que o consumidor possa de modo simples devolver produtos
aos fornecedores. “A internacionalização e o tipo de produto que produzimos
permitiram à nossa empresa estar a ultrapassar a situação”, refere Paulino
Ribeiro.
É por tudo isto que os
responsáveis da Finieco estão já a preparar 2021 com algum otimismo, mantendo o
plano de investimentos de curto e médio prazo, no valor de 9 milhões de euros,
reforçando investimento e formação de recursos humanos, realizando ações de
acesso e admissão em contexto de trabalho.
Nacho Manero
B2 Pack – Labels and Packaging
Espanha
Nacho Manero da B2Pack- Labels and Packaging centrou a sua apresentação numa análise pré COVID-19, classificando o mercado espanhol na área gráfica, composto por empresa familiares com gestão familiar pouco profissional, centrada no mercado nacional, com empresas de alto grau de endividamento, um sector com um excedente de capacidade de produção que se dedica na sua maioria à impressão comercial e consumo de papel.
Entre os principais desafios deste mercado gráfico, Nacho Manero identificou a necessária adaptação a novos tipos de produtos e serviços, um constante aumento dos custos de produção, energia e matérias primas, concorrência de países de baixo custo e preços fortes, o endividamento das empresa com dificuldade por excesso de empréstimos, a elevada tecnologia das indústrias, a transformação digital e automatização dos processos, a questão ambiental, entre outros.
A este itens junta-se
os problemas que as empresas gráficas tiveram de enfrentar aquando do início da
pandemia, como foi a adaptação das instalações das empresas, a incerteza e
anulação de pedidos, atrasos no pagamentos, menor procura de impressos
comerciais, ajustes, despedimentos, regulamento temporal do emprego, a divisão
da carga de trabalho, a necessidade de mudar modelos operativos, o teletrabalho,
a procura de oportunidade inovas, a resposta que foi necessária dar ao aumento
da procura de sector do saúde e do governo, redução de produção, etc.
Para combater isto,
Nacho Manero referiu quatro pilares essenciais que passam pela investigação e
inovação, adoção de mudanças e a mudança das mentalidades e que desta
forma poderão ajudar na ação de transformação digital , otimização total de
processos, integração, adequação da produção e da gestão, maior concertação,
sustentabilidade, diferenciação dos concorrente de baixo custo e uma aposta na
melhoria da imagem.
Quanto à impressão
digital o gestor apresentou palavras chave que têm de caracterizar o sector
como são por exemplo a automatização, entregas rápidas, personalização,
operações eficientes e tiragens curtas.
Sem surpresa, Nacho Manero apontou os sectores que estão a crescer e que são o packaging, etiquetas, embalagens flexíveis, o que deixa uma perspetiva otimista para todas as empresas que desenvolvem atividade nestas áreas.
Num claro plano delineado para o futuro, Nacho Manero destacou que é essencial que as empresas gráficas apostem na renovação da sua imagem, nas mudanças que estão a acontecer no mercado, na atenção a novas necessidades, na colaboração com outros players de mercado, na questão da sustentabilidade do meio ambiente, na internacionalização, na automatização dos processos digitais, transformação da gestão familiar, na observação de novos mercados, na urgência de criar parcerias e associar-se e ainda, na aposta numa transformação digital e automatização dos processos,
Fábio Gabriel
Leograf Gráfica e editora
Do Brasil o encontro
recebeu o testemunho de uma empresa que está no mercado há 21 anos, atua na
área comercial, promocional e editorial, tendo dentro de portas impressão
offset plana, rotativa e digital, personalização e impressão e grandes
formatos.
Sobre a pré-pandemia,
Fábio Gabriel destacou os enormes desafios e adaptações da indústria gráfica
brasileira, confessando que, antes de tudo, na sua empresa, o foco foi
colocado na mudança.
“Foi necessário
proceder a uma redução da jornada, ter um plano de continuidade do negócio, um plano
de contingência, um programa de prevenção um treinamento junto da equipa
(orientação no combate à COVID-19), depois passámos a lançar de novos
produtos como máscaras de proteção (quatro tipos de máscaras, para diferentes
necessidades).
É óbvio que o impacto
da mudança levou ao desenvolvimento de novos padrões sociais e de comportamento
e houve uma adaptação ao novo cenário, aos desafios e ao impacto, sempre com
a manutenção de valores chave que nos conduzem e a credibilidade dos
nossos produtos”, sublinhou Fábio Gabriel.
Esta empresa
brasileira revelou também que encontrou novas formas de “achar” os clientes, já
que a maioria passou a estar em teletrabalho e, por isso, mais de 70 vendedores
por todo o país passaram a ter muitas reuniões com recurso ao zoom, Skype, WhatsApp…
Outra solução para a
entrega dos trabalhos passou pelo uso dos correios e houve uma especial
preocupação na selagem dos trabalhos enviados para que os clientes pudessem ter
a garantia de que recebiam produtos higienicamente desinfetados. Neste momento
a Leograf já está com 80% da sua capacidade de trabalho e neste quarto
trimestre, “estamos a analisar o que temos pela frente, como é o caso da
campanha de Natal, da produção de cadernos, agenda, moleskines, tudo a pensar
em 2021.
Acredito que sairemos
fortalecidos, estamos a projetar melhor o futuro e apesar de preocupados,
sabemos que esta é uma oportunidade para aprender e melhorar!”, conclui de modo
otimista o profissional gráfico brasileiro.