A Abigraf e Apigraf, associações da área gráfica do Brasil e Portugal levaram a cabo, no dia 23 de Junho, um webinar sobre tendências e perspectivas no mercado de impressão pós Covid19, nos dois países.
O evento online, que decorreu
na plataforma Zoom e que contou com mais de 200 participantes, teve como
objectivo analisar o momento pré e pós pandemia vivido nas empresas gráficas.
Sentir o pulso dos dois mercados, foi relativamente fácil tendo em conta que o
evento teve a participação de responsáveis de empresas dos dois países e de
diferentes segmentos de mercado.
A visão abrangente dos
diversos profissionais permitiu perceber como são semelhantes as medidas
adoptadas em cada país e ainda, concluir que, apesar das circunstâncias há um
optimismo moderado sobre a renovação e reinvenção da indústria, não fosse esta
uma das que mais tem sabido ultrapassar crises e adaptar-se a novas realidades.
O evento foi uma iniciativa
da Associação brasileira Abrigraf e contou com a participação da Apigraf sendo este
o primeiro encontro virtual que permitiu a reunião e partilha de informação
directa através dos testemunhos dos responsáveis de algumas das mais
representativas empresas gráficas do Brasil e Portugal.
Levi
Cerigato – ABRIGRAF
Entre os dados revelados
sobre o impacto da Pandemia no sector gráfico brasileiro, Levi Ceregato presidente
Nacional da Abrigaf afirmou que, um terço das gráficas esteve sem trabalhar,
que a quebra na facturação foi de mais de 50% na grande maioria das empresas, a
redução de salários foi uma realidade e que, tal com aconteceu em Portugal,
também o governo brasileiro preparou um conjunto de medidas de apoio às
empresas. Ainda assim, Levi Ceregato
considerou que tudo isto acabou por ser apenas um “analgésico” e revelou que, tal como seria de esperar, há um único
segmento que continua a puxar a indústria e que esse é o segmento das
embalagens, sobretudo as que estão ligadas à área farmacêutica, alimentar e de
produção.
Lopes
de Castro – APIGRAF
Lopes de Castro , presidente
Apigraf começou por dizer que esta pandemia acabou por ser uma oportunidade para
falar de forma mais profunda sobre os problemas na Europa e sobre questões que
são semelhantes nos dois países.
“Esta é uma crise que atravessa a economia de forma igual e total. “
Lopes de Castro, EPIGRAF
“Esta é uma crise que atravessa a economia de forma igual e total. Importa saber como vamos sair desta crise no momento em que a digitalização tomou conta do palco. Somos a “indústria das indústrias”, pelo que acabamos por reflectir tudo o que há de bom e mau na economia. O segmento gráfico que trabalha a área de embalagens alimentares, saúde, rótulos ou caixas, passará sem dificuldade por esta crise enquanto a área de impressão comercial ligada à hotelaria, turismo, eventos, restauração ou cultura, passarão mal nos próximos tempos.”
Acerca do
sobredimensionamento da capacidade instalada e do excesso de oferta, Lopes de
Castro considerou que este assunto já foi discutido muitas vezes mas que nunca
se chegou a nenhum solução apesar de ser lógico que, com tanta oferta, as
margens acabem por descer.
“As empresas precisam
urgentemente de ganhar escala, para que nos posicionemos e possamos olhar para
a Europa como o nosso espaço comercial natural.
Neste momento a sociedade
está a pensar digitalmente e a indústria gráfica sempre absorveu todas as
inovações tecnológicas e beneficiou muito da digitalização mas, temos um
problema em Portugal, já que somos uma indústria de comunicação gráfica mas não
sabemos comunicar sobretudo junto dos poderes políticos! Não sabemos comunicar
e precisamos de o fazer”, sublinhou com ênfase o presidente da Apigraf .
Esta afirmação ganhou ainda
mais relevância quando durante a pandemia, a indústria gráfica provou a sua
força ao dar resposta às necessidade da área da saúde e alimentação.
Um
inquérito durante a Pandemia
Com 380 empresas associadas, a Apigraf inquiriu as empresas para que fosse produzido um estudo que mostrasse o impacto da pandemia no nossos mercado. Com a área do turismo a ter sido totalmente afectada e o sector do alojamento a registar quebras de 97 por cento em relação a períodos homólogos, isso impactou de imediato as empresas gráficas.
A redução de todas as outras indústrias reflectiu-se também na indústria gráfica. Sobre o impacto do Covid19 na actividade das empresas, mais de 70 por cento revelou que suspendeu total ou parcialmente, e por isso também a retoma está a ser igualmente parcial, sobretudo porque o layoff ainda continua.
Ana
Cristina Baeta – Olegário Fernandes
Ana Cristina Baeta da administração
da Olegário Fernandes, empresa especializa em produção de embalagens, bulas
médicas e etiquetas adesivas participou neste evento e revelou que antes da
pandemia a actividade estava a correr bem e a empresa vinha registando nos
últimos anos um crescimento sucessivo. Para 2020 a Olegário Fernandes esperava
que fosse mais um ano de crescimento. “Estávamos a analisar investimentos para
fazer este ano e, de repente, chegou o confinamento por causa do Covid19. Ainda
assim, mantivémo-nos a trabalhar, a
abastecer a sociedade de produtos e serviços de embalagem.
Com 140 colaboradores e uma facturação de 15 milhões de euros, Ana Baeta confessou que, no início, “Quando foi decretado o confinamento e Estado de Emergência, foi difícil passar a mensagem de que a empresa integra uma cadeia de abastecimento e não podíamos por isso ir para casa. Fizemos planos, tomámos medidas, alteração de turnos para que as pessoas não se cruzassem, tivemos os cuidados necessários, começámos a trabalhar e hoje os colaboradores dão graças por isso.”
Sobre a actividade, a gestora refere que “não atingimos os objectivos mas estamos ao mesmo nível do ano anterior.”
“Foi difícil passar a mensagem de que a empresa integra uma cadeia de abastecimento e não podíamos por isso ir para casa”
Ana Cristina Baeta, Olegário Fernandes
Em Abril, devido ao consumo houve um crescimento mas agora abrandou. Não conseguimos crescer. A actividade de prospecção, por exemplo, parou. As videoconferências não são a mesma coisa que visitar os clientes de forma directa. Os investimentos foram suspensos mas dado o sector em que estamos, as coisas não estão a correr mal.
No Pós Pandemia, se a situação não se descontrolar, o sector de embalagem pode continuar a trabalhar e depois recuperar, mas se o desemprego se acentuar o consumo também desce e isso pode afectar a nossa actividade. Apesar de tudo, os nossos
clientes reconhecem esta actividade essencial enquanto indústria.”
Lopes
de Castro – Norprint
Lopes de Castro, presidente
da Apigraf é também um reconhecido empresário gráfico, responsável maximo pela
Norprint, a Casa do Livro e, foi nessa qualidade que falou da área editorial e
teceu considerações sobre o seu desempenho e a forma como esta área foi
afectada pela pandemia. “Estamos numa área muito especifica com o mercado a
decrescer. Este mercado não crescerá mas é preciso uma adaptação a uma nova
realidade”, refere Lopes de Castro.
Depois de um ano de 2019 considerado como bom, a Norprint que emprega 70 pessoas e factura 7 milhões de euros viu chegar a situação do confinamento e a suspensão ou adiamento de todas as encomendas. Apesar disto, a empresa nunca esteve parada e Lopes de Castro revela que foram criadas equipa e turnos para imprimir embalagens para outras empresas que se socorreram da capacidade da Norprint.
“Uma partilha interessante que deveria ser mais habitual do que apenas em tempos de crise.”
Lopes de Castro, presidente da Apigraf
O presidente da Apigraf e gestor gráfico, considera mesmo que esta “foi uma partilha interessante que deveria ser mais habitual do que apenas em tempos de crise.” Acerca da área editorial Lopes de Castro afirmou que a quebra de 80% é demasiado mas que é preciso ver o que acontecerá neste segundo semestre.
Bruno
Moluras – Ondagrafe
Quem também falou ao participantes neste evento online foi Bruno Moluras, director geral da Ondagrafe, uma empresa com 35 anos de actividade, que está na área da grande Lisboa e conta com 110 funcionários.
“Entre Janeiro e Fevereiro estávamos a crescer mas com a chegada de Março e da Pandemia, a quebra foi muito grande, na ordem dos 70% “
Bruno Moluras, Ondagrafe
Bruno Moluras recordou que a
Ondagrafe nasceu como gráfica comercial e veio aos poucos entrando na área do
packaging e, mais recentemente, na área da impressão digital de grande formato.
Nos últimos dois anos a empresa de Loures cresceu cerca de 10 por cento ao ano.
“Entre Janeiro e Fevereiro estávamos a crescer mas com a chegada de Março e da
Pandemia, a quebra foi muito grande, na ordem dos 70 por cento e manteve-se em
Abril e Maio. Esperamos que neste Junho
a quebra seja de 50%”, revela o empresário.
Quanto à quebra de encomendas
na impressão digital de grande formato, ficou a dever-se sobretudo ao facto dos
eventos e turismo terem sido as áreas mais afectadas.
Bruno Moluras confessa que,
“aqui a quebra foi total. Em Abril, começámos a ver as grandes empresas a mxeer
um pouco, principalmente as multinacionais que querem ter alguma actividade mas
ainda não sabem muito bem para onde caminhar.
Em relação às mudanças e adaptação,
não sou muito pessimista porque este é um problema global e assim que o medo
desaparecer, creio que a economia vai recuperar mais rapidamente do que estamos
à espera.”
Entre outras ideias, o gestor e empresário gráfico adiantou que “a digitalização já acontecia mas esta pandemia veio acelerar alguns dos problemas da indústria. Depois um outro problema é que quem não tinha “mealheiro” para passar esta fase vai ter mais dificuldades. E claro que há mudanças, como
as ementas com os QR Code a que agora as pessoas aderiram mas penso que quando isto passar, voltaremos a preferir
as ementas tradicionais.”
Acerca das perspectivas de curto prazo, Bruno M. diz que é preciso resistir à crise, reestruturar e modernizar. “Na Ondagrade estamos a fazer o lançamento de uma loja online e a trabalhar nisto, que era algo que já tinha sido iniciado e estava parado.
Penso que no futuro as
campanhas de publicidade e marketing serão mais direccionadas e assertivas para
ter custos menores. Acredito que depois disto tudo, ficaremos com uma economia
mais forte e tal como depois de uma guerra a economia sempre cresceu, desta
feita também não será diferente.”
Tita
Fernandes – Mofitex
Tita Fernandes é empresária e
gestora na administração da Mofitex, empresa que se dedica à impressão de
rótulos e etiquetas ligados à área alimentar, cadeias de supermercados,
logística e higiene. Neste este evento online Tita Fernandes deu a sua visão
sobre o mercado e o funcionamento da sua empresa durante este período da
pandemia para revelar que “não temos tido quebra mas tivemos de tomar decisões
rápidas em dois dias, sobre teletrabalhos, separação de turnos e redimensionamento
de todo o trabalho.”
Ao contrário de outras empresas gráficas que actuam em áreas diversas, a Mofitex conseguiu mesmo registar uma subida na sua produção.
“Em Março tivemos uma subida de 30% mas acompanhada de muitos custos porque foi preciso fazer stocks enormes.”
Tita Fernandes, Mofitex
“Em Março tivemos uma subida
de 30% mas acompanhada de muitos custos porque foi preciso fazer stocks
enormes. As matérias primas demoravam a chegar e tomámos medidas adequadas para
servir os clientes.
Em Abril e Maio a situação normalizou
e, suponho que não haverá mais subidas atípicas porque o que aconteceu ficou a
dever-se a uma corrida aos supermercados aquando do princípio do confinamento.”
Tita Fernandes disse ainda,
em jeito de desabafo que, “foi preciso vir a pandemia para que se reconhecesse
que éramos uma indústria essencial. Foi preciso este momento para que se
percebesse que somos essenciais.
A indústria de etiquetas
estava a vivem um momento em crescendo, não tanto como se dizia, mas como
estamos ligados aos bens essenciais, não sentimos tanto as dificuldades com
outras indústrias. “
Sobre o futuro a empresária
considera que “devemos passar uma imagem positiva, passar serenidade e
continuar a investir. Contra tudo o que se pensava, o que está a aumentar em
termos de etiquetas e rótulos são os filmes. Havia uma luta contra o plástico
mas neste momento são os filmes que estão a crescer. A nossa luta é lançar
produtos o mais possível amigos do ambiente.
Devemos sensibilizar os
clientes para os problemas ambientais e essa é, e continuará a ser, uma das grandes
lutas da Mofiitex.”
Miguel
Pina – Grupo Big UP
Miguel Pina integra a
direcção comercial do Grupo Big UP, criado há seis anos a partir da empresa
Louresgráfica, um projecto familiar com o seu core business na produção
comercial.
O gestor começou por afirmar
que “a área de impressão comercial tem sofrido um grande impacto durante a
pandemia. O nosso Grupo derivou de uma empresa familiar, que vai na sua segunda
geração e hoje temos um processo industrial totalmente moderno e actualizado.
A indústria gráfica não se
vende da melhor forma para o mercado, junto dos seus clientes e, até para as
pessoas que precisa captar para trabalhar. Esta área não motiva os jovens a
trabalhar porque estes não quem ir para a área ligada à produção e, preferem
ser designers ou estar ligados ao online. Este será um problema a resolver
depois desta situação passar”.
Antes do Covid19 o Grupo Big
UP estava num processo de reestruturação e o final de 2019 foi designado pelo
gestor como “excelente”. No inicio de 2020 estavamos com bons indicadores e,
depois apareceu esta situação que ninguém esperava mas que com a reestruturação
que vinha sendo feita, acabou por ser menos complicado lidar com o impacto.
No Grupo temos uma agência de design que pretende estar perto dos clientes para ajudar na decisão daquilo estes pretendem produzir. O que notamos, é que os clientes de um momento para o outro deixaram de ter reacção. Aqui entram a palavra chave da comunicação: confiança! Sem confiança as pessoas não
vão voltar a poder ter um dia a dia normal.”
“Nos 22 anos que tenho de artes gráficas, estamos sempre a sair da caixa, a reinventarmo-nos.”
Miguel Pina, Grupo Big UP
Fazendo uma retrospectiva sobre os anos que trabalha na área gráfica, Miguel Pina é peremptório em afirmar que “nos 22 anos que tenho de artes gráficas, estamos sempre a sair da caixa, a reinventarmo-nos. Não sei como está o Brasil mas
creio que ao nível da comunicação o mercado gráfico terá o mesmo problema que
nós. Aqui a comunicação social tem sido feita pela negativa. Não há comunicação
pela positiva, não há dados sobe faixas etárias e, acima de tudo, não se ouve
falar de imunidade ou como se deve trabalhar essa imunidade.“
Abordando as perspectivas
para o futuro, Miguel Pina mostra-se optimista e considera que estas têm de ser
animadoras. “ Estamos a trabalhar para isso, fazendo ver aos nossos clientes
que estamos com eles, que procuramos em conjunto mudar esta situação. Acredito
que a recuperação será mais rápida e temos de estar preparados para nos
reinventarmos.
Esta situação vem mostrar que,
talvez possamos fazer mais com menos e isto leva-nos a outras ligações.
Temos uma sobrecapacidade
instalada em Portugal e, por isso terá de haver uma maior rede de contactos
entre empresas porque ninguém pode ter tudo. Cada vez mais temos de eliminar as
gorduras das nossas empresas para depois em situações especificas, trabalhar
com os nossos clientes e aumentar a nossa panóplia de serviços que pode bem ser
fruto de parcerias.”
Pedro
Santos – Ocyan
A empresa está no mercado
desde 1996 e por isso o seu director geral, Pedro Santos classifica a Ocyan
como uma “Jovem empresa”
No inicio a empresa só tinha pré-impressão e iniciou-se apenas na impressão no ano 2000. O seu percurso foi atípico já que ao contrário da larga maioria, a Ocyan começou por se estrear na impressão digital e só depois passou à impressão offset.
“Já passámos por várias crises e temos de nos reinventar sempre.”
Pedro Santos, Ocyan
“Já passámos por várias
crises e temos de nos reinventar sempre. Na verdade aquilo que aconteceu no mês
de Março foi algo para o qual não estávamos preparados.
Quando sentimos que a pandemia estava a chagar à Europa, a economia parou de um dia para o outro e todos tivemos de nos adaptar a esta nova realidade. Nos meses de Março e Abril a quebra da facturação foi na ordem nos 50 a 60 por cento. Quem imprime digital trabalha muito com a organização de congressos, eventos, activação de marcas e isso travou a fundo. Somos muito fortes na área de produção para eventos e tudo isso foi adiado e é certo que não haverá trabalho nessa área durante este verão. Em termos de congressos Lisboa também é forte e mais uma vez aqui tudo se perdeu.
Temos sentido alguma retoma,
por exemplo na área da banca e cosmética, mas isto não é suficiente para
estarmos optimistas e, sabemos que vai demorar a ter de volta os valores que
estávamos habituados.” É desta forma que Pedro Santos resume aquilo que a
empresa tem vivido durante esta pandemia.
Mas sobre os próximos tempos,
o gestor gráfico é cauteloso, relembrando que “na Ocyan os meses de Março,
Abril e Junho são muito fortes, só equiparáveis aos meses do Natal e mesmo que
aconteça uma recuperação não é suficiente para compensar o que se perdeu.
De qualquer forma, isso não
implica que não sejamos optimista. Tudo depende daquilo que todas as outras
indústrias venham a fizer e precisar da indústria gráfica, e também depende do
consumo e dos sinais de confiança. Enquanto isso não acontecer, as marcas vão
retrair-se na impressão No nosso caso, isso vai fazer com que não estejamos no
nosso patamar médio de produção. Apesar deste cenário, estamos optimistas para
que num futuro mais ou menos próximo possamos retomar a actividade de forma
normal.”
O gestor mostrou-se ainda
optimista quanto aquilo que a impressão digital pode ajudar nesta situação de
retoma, sobretudo pelas circunstâncias de diminuição das tiragens onde o
digital pode ser a opção mais acertada e ainda pela oferta de personalização,
já que as marcas sabem que obtêm melhores resultados quando usam esta ferramenta
de comunicação.”