“O livro S., de J. J. Abrams – conhecido pelo seu trabalho como realizador de filmes como Star Trek e Star Wars – e Doug Dorst – romancista premiado – é diferente de qualquer outro. Ele apresenta duas histórias: a primeira e principal, intitulada “O Navio de Teseu”, desenrola a trama de um homem que está perdido e com amnésia em busca de sua história; a segunda é a conversa que dois leitores desenvolvem nas margens do livro, em que um responde ao outro quando do empréstimo do livro em uma biblioteca universitária. E, para além dessas duas histórias, observa-se a inserção de materiais extras ao decorrer do livro, com papéis e paginação diversificados em relação ao produto.
O que chama a atenção no livro são os detalhes da edição. O livro passou por um planeamento gráfico bastante complexo e detalhado para ser colocado em prática e alcançar o objetivo de seu idealizador. As variações de design que ocorrem ao longo da obra se conjugam ao formar um conjunto conciso. Isso se dá devido ao estudo de design feito anteriormente à produção do livro, o que demonstra, mais uma vez, como essa é uma etapa importante em se tratando do desejo de permitir, ao leitor, a plena compreensão do que está lendo.
O que se observa de forma recorrente é que em cada caso a tipografia, os papéis, as texturas e os diversos elementos gráficos que se apresentam ao longo da obra se assemelham o máximo possível aos materiais que de facto existem em nossa rotina. Na maior parte dessas peças, porém, o que vemos é a caligrafia de pessoas, o que também necessitou de um profundo planeamento, pois disso dependia a compreensão do que se está lendo, ao ser necessário também incluir a personalidade de cada personagem em sua letra, além de posicioná-lo no contexto no qual estava inserido.
Esse tipo de experiência visual e inserção de elementos gráficos mais ricos possui a característica facilitadora de integração do leitor com o conteúdo que possui em mãos, já que o design gráfico pode possuir o papel de complementar o sentido do texto, auxiliando o processo de compreensão. A esse processo consideramos o enriquecimento da história, pois a leitura se transforma em uma atividade imersiva e o design contribui para a criação de novas e diversas interpretações, dependendo do leitor e do contexto em que ele se encontra.
O que se conclui é que a leitura desse livro, devido ao seu design gráfico, é uma experiência de imersão, pois nos insere nos dramas e mistérios da dupla história que ocorre em suas páginas, nos fazendo acreditar que somos detectives também, junto com os dois leitores conversando nas margens da narrativa.”
Este artigo foi escrito por uma aluna minha de mestrado Inari Jardani Fraton.