A Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa recebeu ontem, dia 16 de maio, a atribuição do Navigator Art On Paper Prize, o maior galardão de arte em papel do mundo. A grande vencedora desta edição foi Catherine Anyango Grünewald, a artista que se debruça no retrato preciso do espaço público e de que forma este é afectado por acontecimentos traumáticos.
É através dos seus desenhos que Catherine Anyango Grünewald tenta reescrever histórias e acontecimentos que permitam desvendar estruturas invisíveis de poder e violência. Ontem foi a grande eleita do júri entre 15 artistas seleccionados numa primeira fase e cinco finalistas do concurso Navigator Art On Paper.
A artista sueca, com raízes no Quénia, escolheu trabalhar com lápis de carvão sobre papel pelo carácter democrático desta ferramenta tão utilizada, em particular, em contextos não artísticos. No seu trabalho, o carvão é usado com violência sobre o papel, riscando-o e marcando-o quase até ao limite da sua integridade, em desenhos que reflectem o luto e uma possível redenção. Catherine Anyango Grünewald usa também a borracha como a ferramenta que permite não apenas apagar mas no novo vazio da folha dar lugar a uma nova utopia.


“Interessam-me muito as potencialidades das propriedades do lápis e do papel para transmitir temas sensíveis e complexos, assim como a relação entre materiais e sentido”, refere a artista sobre o seu trabalho, acrescentando que “a um dado momento das nossas vidas, a maioria de nós usou o lápis sobre papel como meio de autoexpressão, tanto para tirar apontamentos como para esboços. É assim que aprendemos. Espero que a utilização de materiais que são democráticos e quotidianos possa oferecer aos espectadores um ponto de acesso a temas difíceis”.
Os desenhos de Catherine Anyango Grünewald são feitos em duas texturas de grafite para criar, segundo a artista, “uma superfície simultaneamente mate e brilhante, assemelhando-se a negativos fotográficos”. Dada a sua relação mutante com a luz, “devemos observá-los de um modo quase forense, movendo-nos para captar a luz e, com ela, pormenores e pistas”, acrescenta.
De perplexidade no rosto, gratidão no coração e de galardão nas mãos, Grünewald sublinhou novamente a importância da utilização do papel como principal material nas suas composições estabelecendo um paralelismo muito interessante entre a fragilidade do mesmo e a fragilidade das situações de violência e crimes institucionais que retrata nas obras que produz.

“O meio que utilizo para trabalhar é o papel. O papel é um material utilizado no nosso dia-a-dia, nas mais variadas situações. À semelhança deste material que faz parte da nossa rotina a muitos níveis também as situações difíceis e dramáticas que retrato nas minhas obras também fazem, infelizmente, parte da nossa vida. É importante salientar que o papel é muito frágil, precioso e delicado.”, porque também as vítimas de actos desta natureza o são. Frágeis. No entanto, Catherine sublinha que, à semelhança do papel que, se moldado na posição correcta até poderá segurar aço, também estas pessoas poderão encontrar essa força face às adversidades que nos retrata nos seus trabalhos.
Também presente, João Castello Branco, CEO da The Navigator Company, fez questão de referir que o grupo faz votos para que o prémio Navigator Art on Paper, uma iniciativa que acredita ser “diferenciadora” e “inovadora”, seja capaz de chegar mais perto da comunidade artística como da sociedade civil. “Estas iniciativas têm contribuído para reforçar a importância do papel como elemento consolidador das práticas artísticas.”
Cristina Vaz Tomé, CRO do grupo Impresa, a dada altura questiona a audiência. “Pergunto-vos, por que é que jornal Expresso e a SIC se associariam a um prémio destes? Porque efectivamente está no nosso ADN. A cultura é um dos temas centrais do nosso jornal, por isso fazemos questão de estar presentes desde primeira hora. Gostaria de assinalar que esta parceria é uma parceria consistente, uma vez que já vai no segundo ano. Há poucos meses estabelecemos uma outra parceria com o grupo Navigator que vem reforçar esta consistência de que falava anteriormente. Lançámos pela primeira vez em Janeiro deste ano um saco de papel, ao invés do tradicional saco de plástico, onde é transportado geralmente o jornal Expresso. Este saco em papel teve a assinatura da artista portuguesa Joana Vasconcelos com a designação ‘Por Amor ao Papel’.

Já a curadora do prémio, Filipa Oliveira, sublinha, a importância do papel reivindicativo que a arte sempre desempenhou e que o Navigator Art On Paper procura defender com este tipo de iniciativas. “Nesta noite inauguramos uma exposição que nos mostra como arte e o papel fazem parte da nossa vida. Uma exposição é sempre um longo processo de trabalho e deixo aqui os nossos agradecimentos sinceros a todos os envolvidos. Os artistas que integram esta exposição são, no fundo, a razão de tudo isto. São a razão pela qual eu sou curadora e porque trabalho, sem eles nada disto faria sentido. De nada adianta fazermos exposições sem termos público, por isso agradeço a todos os presentes. Precisamos dos vossos olhos para verem esta arte, precisamos das vossas mãos para darem vida ao papel e precisamos dos vossos corações para que isto tudo faça sentido.”

A mostra reúne uma seleção de obras de cinco artistas – Abu Bakarr Mansaray (Serra Leoa), Andrea Bowers (EUA), Catherine Anyango Grünewald (Suécia / Quénia), Maria Berrio (Colômbia) e Mateo López (Colômbia) – finalistas à 2ª edição do Navigator Art on Paper Prize, o maior galardão de arte em papel no Mundo.
A Exposição poderá ser visitada de segunda a sexta-feira, entre as 12H00 e as 19H00, e ao sábado, das 14H00 às 20H00, sendo uma oportunidade única para conhecer as obras dos artistas, sobretudo as que foram especialmente criadas para o Navigator Art on Paper Prize. A Exposição irá coincidir com a Arco Lisboa e integra um programa de visitas e conversas complementares. A entrada é gratuita.


O Navigator Art on Paper é o maior prémio mundial de arte em papel e tem como missão apoiar a criação artística em papel, valorizando – o como um dos suportes de inovação, criatividade, investigação e arte. É um incentivo à criatividade, à cultura e ao reconhecimento do talento nacional e internacional. De relembrar que o artista plástico Pedro A. H. Paixão foi o vencedor da 1ª Edição do Prémio Navigator Art on Paper.