Quem tem uma empresa que necessita trabalhar todos os dias, não deve colocar-se na dependência de fornecedores que só estão presentes quando lhes convém.
Recentemente refletimos sobre o facto de o mercado estar de pernas para o ar!
Já depois disso tive a oportunidade de contactar com bastantes gráficos no encontro anual da APIGRAF e com outros que me contactaram diretamente. Senti a tensão que se instalou no mercado por falta de matéria prima. Muitos gráficos impossibilitados de trabalhar ao nível de anos anteriores, por falta de papel.
Gostaria de reforçar aqui o que já afirmei antes, designadamente no encontro da APIGRAF: A Navigator não está a vender em Portugal em 2022, menos do que tinha vendido em 2021. Para ser mais preciso, até ao fim de Abril, as vendas de papel de impressão e escrita da Navigator estavam 13% acima das vendas do ano passado.
Isto quer dizer que ninguém deve ter dificuldade em comprar o mesmo volume do Soporset ou Inaset que comprou o ano passado.
A Navigator está a tentar otimizar a produção. Procura-se que as mesmas máquinas consigam produzir mais papel nas mesmas 24h do dia. Para isso, aumenta-se a gramagem média (evitando os produtos de mais baixa gramagem) e concentra-se a capacidade nos produtos premium. Evita-se assim tempos mortos por mudança de produto na máquina.
No passado o mercado era abastecido por vários fabricantes: alguns europeus (designadamente espanhóis), indonésios, brasileiros, etc. Também é conhecido que estes fabricantes ofereciam ao mercado opções de preços e qualidades inferiores aos do Soporset e Inaset. Certamente muitos compradores julgaram fazer uma excelente escolha, ao optar por estas soluções económicas. O problema, é que essas soluções desapareceram com a crise que se instalou no mercado. Nuns casos, foram os valores dos fretes marítimos que tornaram inviável para indonésios e brasileiros, obter rentabilidade de vendas na Europa. Noutros casos, fabricantes de baixo preço, tinham rentabilidades insustentáveis que os obrigaram a encerrar linhas de produção ou passar a produzir material de embalagem. Outros ainda, tendo muita procura nos seus próprios mercados, optaram por concentrar aí as suas vendas, abandonando sem preocupações os seus clientes portugueses.
Assim, a Navigator, mesmo aumentando em 13% as suas vendas em Portugal (fruto da política de aumento da gramagem média e da concentração do mix), não consegue tapar o buraco criado por outros.
Insisto assim numa recomendação que já deixei no encontro da APIGRAF: Quem tem uma empresa que necessita de trabalhar todos os dias, não deve colocar-se na dependência de fornecedores que só estão presentes quando lhes convém e que desaparecem quando a procura nos seus mercados se torna mais apetecível. Será preferível estabelecer uma relação estável com um fornecedor sólido, que ofereça mais confiança e que não abandona o mercado quando as condições são menos favoráveis. Um fornecedor assim, não acompanha as ofertas de preço de ocasião, mas em contrapartida está com os seus clientes, de acordo com o que tiver sido acordado e com o que corresponder ao histórico de compras.