Manoel Manteigas de Oliveira é director técnico da ABTG e esteve em Lisboa para participar como orador no CIDAG que decorreu no ISEC. A IG aproveitou para saber como viu o mercado gráfico nacional e saber mais sobre a área gráfica no Brasil.
Esteve recentemente em Lisboa para ser um dos oradores do CIDAG. Como viu este projecto CIDAG?
MMO: Eu já tinha participado em edições anteriores, como membro da comissão técnica. Sempre valorizei esta iniciativa e gosto particularmente da presença crescente de brasileiros. Os estudos e pesquisas apresentados têm bom nível e estimulam a sinergia entre acadêmicos dos países participantes. Neste momento em que a indústria da comunicação gráfica precisa de se reinventar, a contribuição do Cidag é muito relevante.
É director técnico da ABTG – Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica. Qual o objectivo desta associação?
MMO: A ABTG, com quase sessenta anos de existência, é a mais antiga organização técnica brasileira voltada para o segmento de comunicação gráfica. Os nossos principais objectivos são disseminar conhecimentos, promover a melhoria da indústria gráfica nos seus aspectos de tecnologia e gestão e promover as vantagens do uso dos impressos, em tempos de concorrência com as medias eletrónicas.
Como surgiu a ABTG ?
MMO: A Associação foi fundada por um grupo de profissionais que queria partilhar os seus conhecimentos e experiências, numa época em que não havia escolas, a produção gráfica ainda era muito artesanal e muitos guardavam procedimentos e métodos de produção como se fossem segredos. Posteriormente a entidade abriu se também para a associação de empresas.
O mercado brasileiro da área gráfica beneficia do trabalho da ABTG? De que forma?
MMO: Todas as actividades da ABTG pretendem, directa ou indirectamente, beneficiar todo o setor de comunicação gráfica. Os principais benefícios vêm na forma de conhecimentos adquiridos, mas há outros que não são percebidos imediatamente, como os resultados do desenvolvimento de normas técnicas que dão as bases para ganhos e produtividade e qualidade. A campanha Two Sides é outro exemplo de actividade que vem resultando em ganhos para as indústrias gráficas, de forma lenta, mas muito consistente, ao mostrar que a media impressa é amigável ao meio ambiente e eficaz como meio de comunicação.
Como descreve, neste momento, o actual estado da indústria gráfica brasileira?
MMO: A economia brasileira vem passando por grandes dificuldades, desde 2014. Todos os segmentos têm sido mais ou menos afectados por essa profunda recessão. Também a comunicação gráfica sofre com isso. Têm havido muitas demissões e gráficas tradicionais chegaram a fechar as portas. No entanto, o Brasil tem um grande potencial para crescimento da indústria gráfica, principalmente o sector de embalagens mas também o editorial e o publicitário, sendo que este último tem sofrido bastante também com a concorrência da publicidade digital. Todos esperam que a partir do ano que vem o Brasil deva retomar seu crescimento.
Na sua apresentação no CIDAG falou de tendências na área de impressão, sobre o futuro e desafios. Acredita que a impressão tem futuro e continuará a desempenhar um papel importante na área da comunicação?
MMO: A campanha Two Sides tem realizado pesquisas que demonstram a atractividade do impresso para a maioria das pessoas. Há diversos outros estudos, realizados por empresas de consultoria e academias, que confirmam isso. Os meios impressos são eficazes e mantêm se necessários, apesar do surgimento de tantas alternativas nas últimas décadas. As campanhas publicitárias mais eficazes são as que incluem a impressão no seu mix de mídia. Além disso, o papel é uma mídia altamente sustentável do ponto de vista ambiental. Os consumidores estão percebendo isso e podem vir a continuar preferindo o impresso também por essa razão.
Na sua opinião os profissionais gráficos brasileiros estão bem preparados para esta era da indústria 4.0?
MMO: Tradicionalmente a indústria gráfica brasileira preocupa-se em investir em tecnologia e manter-se atualizada, mas é necessário observar que temos cerca de 20.000 gráficas e grandes diferenças entre elas. Dentre essas há centenas de empresas muito bem equipadas e que mantêm planos estratégicos visando o aumento constante de produtividade. O Senai – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – mantém diversas escolas voltadas à formação de técnicos, inclusive em nível superior, em todos os segmentos industriais, inclusive gráfica. Essas escolas estão muito bem equipadas e já oferecem capacitação e orientação quanto às tecnologias 4.0.